A 14ª edição do Festival Rede Mulher Empreendedora (RME) encerrou no último sábado (4) com um saldo histórico: foram mais de 19 mil inscritos e cerca de 10 mil pessoas presentes nos dois dias de evento. Uma programação intensa e trocas que reforçaram o papel do evento como o maior encontro dedicado ao empreendedorismo feminino no Brasil. Realizado no São Paulo Expo, o festival transformou o espaço na “Cidade das Empreendedoras”, reunindo nomes de referência, novas lideranças e centenas de negócios liderados por mulheres.

Ana Fontes. Crédito: Victor Rocha

A fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora e Instituto RME, Ana Fontes, também vice-presidente do Conselho do Pacto Global da ONU, abriu o evento celebrando o crescimento expressivo no número de participantes – quase o dobro da edição anterior. “No ano passado, tivemos pouco mais de 10 mil inscritas. Neste ano, chegamos a 19 mil. Isso mostra a força, a rede e o impacto que as mulheres estão construindo juntas”, afirmou.

Entre as presenças institucionais, a Ministra das Mulheres, Márcia Lopes, destacou a importância de colocar as mulheres no centro das decisões de governo: “Fui convidada há cinco meses para assumir o ministério e a principal missão é fortalecer a interlocução entre as pastas, garantindo que as políticas públicas e orçamentárias tenham as mulheres como prioridade. No próximo ano, temos eleições, e precisamos votar em mulheres e em homens que as respeitem”. A ministra também exaltou o trabalho de Ana Fontes, afirmando que ela “oferece o bem mais valioso que temos, o tempo, para colaborar e ajudar outras mulheres a seguirem em frente”, disse.

Liderança, impacto e comunidades que transformam

O primeiro dia do evento foi marcado por debates sobre influência, liderança e propósito. O painel “Conexões que Inspiram: De Influência a Impacto!”, com Luiza Helena Trajano, Mariana Saad e Paola Deodoro, trouxe reflexões sobre o papel das mulheres na construção de redes sólidas e negócios sustentáveis. “Se a gente não muda de ciclo, não vai para frente. Ficar apenas lembrando o passado e o que sofremos não nos faz evoluir. Precisamos olhar para o futuro”, destacou a presidente do Magazine Luiza e líder do Grupo Mulheres do Brasil. Ela ressaltou a importância da empatia como base da liderança: “Passei 20 anos como vendedora e aprendi que comunicação não é o que a gente fala, é o que o outro entende. Liderar é se colocar no lugar do outro e enxergar o mundo sob outra perspectiva”, afirmou.

Já Mari Saad, fundadora da Mascavo, reforçou o papel da comunidade como ativo estratégico para os negócios. “Comunidade é muito mais do que números e seguidores, é o pilar mais importante e o ativo mais difícil de replicar. Quando existe uma relação de intimidade e pertencimento, as coisas fluem naturalmente. É isso que sustenta uma marca a longo prazo”, afirmou.

Sustentabilidade e regeneração como caminho

O tema da sustentabilidade ganhou força no painel “Vozes que Semeiam o Amanhã: Lideranças Femininas pelo Futuro da Terra”, que reuniu nomes como Fe Cortez, Alice Pataxó e Gleici Damasceno. A discussão reforçou a urgência de pensar em modelos de negócios regenerativos e inovadores. Fe Cortez, fundadora do movimento “Menos 1 Lixo”, lembrou que seu ativismo começou a partir de inquietações pessoais: “assisti um documentário, Trashed – Para Onde Vai Nosso Lixo. E trabalhei com moda e com comunicação muitos anos. Sempre fui muito interessada e não sabia da questão dos plásticos nos oceanos, e pensei o quanto as pessoas também não sabiam. Fui criar um site sobre isso e empreender foi a forma que encontrei para viabilizar meu ativismo. Hoje, a mensagem que deixo é clara: se a gente não fizer pensando na Terra e no coletivo, não vale a pena fazer. Nós somos natureza e só haverá futuro se houver respeito a essa conexão”, disse a empreendedora.

Bastidores, propósito e saúde mental no segundo dia

O segundo dia do festival foi marcado por conversas sobre empreendedorismo com propósito, mentoria e saúde mental. No painel “Entre Bastidores e Vitrines: A Arte de Empreender com Propósito”, Vinicius Andrade, Preta Chic e Íris Valiatti, do Boca Rosa Academy, compartilharam vivências sobre vulnerabilidade, aprendizado e o poder das redes de apoio.

“Só fui me reconhecer como empreendedora depois de participar do Boca Rosa Academy”, contou Preta Chic. “Antes eu tentava fazer tudo sozinha, sem direcionamento. A mentoria traz paz para a empreendedora, porque ninguém faz a chave virar sozinha. Rede de apoio é essencial.”

Íris Valiatti complementou: “O projeto Boca Rosa Academy vai além de ensinar finanças ou gestão. É sobre ouvir. Muitas dessas mulheres só queriam ser ouvidas. São pretas, periféricas, e têm um emocional que precisa ser acolhido. A gente não cresce sozinha, precisa aprender a delegar e confiar”.

Já Vinicius Andrade, que atua na liderança do programa, reforçou a importância da curiosidade e do aprendizado contínuo: “Muitas pessoas foram mentoras na minha vida. Aprendo tanto com quem estuda quanto com quem, pela humildade, encontra soluções de forma intuitiva. O processo de aperfeiçoamento nunca para”.

No painel Cabeça Erguida, Tempo Vivo: Saúde Mental em Todas as Fases”, a comunicadora Xan Ravelli destacou a importância de criar “pontos de ancoragem” em meio ao caos contemporâneo. “Não dá para fugir do caos, mas é possível ancorá-lo. Precisamos de um ponto individual, espiritualidade, exercício, meditação, autocuidado, e um coletivo. Relações de baixa manutenção não existem. A gente precisa se fazer presente. Somos seres cooperativos e interdependentes.”

Já o painel “Potência Criativa: Mulheres que Criam, Empreendem e Transformam” reuniu Eliane Dias, Thalma de Freitas, Sabrina Fidalgo e Bárbara Brito, celebrando as expressões artísticas e culturais como ferramentas de resistência, identidade e transformação social.

Rede, propósito e futuro

Com uma programação que reuniu mais de 300 palestrantes, dezenas de mentoras e atividades práticas, o Festival RME 2025 reafirmou seu propósito de fortalecer o empreendedorismo feminino e promover impacto social positivo.

Encerrando dois dias de imersão, o sentimento geral foi de fortalecimento coletivo. Como sintetizou Ana Fontes: “Empreender é um ato de coragem, mas também de comunidade. Quando mulheres se conectam, o impacto é transformador, para os negócios, para a sociedade e para o futuro.”

O Festival RME 2025 foi uma realização da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME, e contou com o patrocínio de Banco do Brasil, Finep, Sebrae, Instituto Rumo (da Rumo S.A.) e InfinitePay (plataforma da CloudWalk) na categoria Diamante. Na categoria Ouro, participaram o Itaú Mulher Empreendedora, o banco BV e a ApexBrasil. Já Coca-Cola, Pluxee, Porto, iFood e Itaipu Parquetec integraram a categoria Prata.

Entre os parceiros institucionais estiveram Vibra, Banco Cora, Mercedes-Benz Vans & Cars, Seguros Unimed, Uber, 99, ClickBus, FlixBus, United Airlines, Tree Diversidade, Interpress, Muskinha, Libresse e Instituto Buddha Spa, além de apoiadores como Vinhos 120 – Santa Rita, Eletromidia e Metrô de São Paulo.

Em 2025, o festival também marcou um momento histórico: sua realização contou com o apoio da Lei Rouanet, o maior instrumento de fomento à cultura no Brasil. As atrações culturais, curadas por e para mulheres, celebraram a arte e a diversidade em suas múltiplas expressões.

A Lei Rouanet é uma política pública criada para fortalecer a cultura no país, permitindo que pessoas físicas e empresas destinem parte do seu imposto de renda devido para apoiar projetos culturais aprovados pelo Ministério da Cultura. Dessa forma, artistas, coletivos, organizações, mestres populares e produtores têm condições de realizar iniciativas que preservam, valorizam e fortalecem a diversidade e os fazedores de cultura do país, além de ampliar o acesso da população a diferentes experiências artísticas.

Sobre a Rede Mulher Empreendedora

Primeira e maior rede de apoio a empreendedoras do Brasil, a Rede Mulher Empreendedora – RME existe desde 2010 e já impactou mais de 15 milhões de pessoas. Criada pela empreendedora social Ana Fontes, a RME tem como missão apoiar as mulheres na busca por autonomia econômica e geração de renda, reforçando sua essência: o espaço é delas. Por meio de capacitações, conteúdo qualificado, conexões, mentorias, acesso ao mercado através de marketplace, programas de aceleração e acesso a capital, a RME transforma histórias e cria oportunidades. Em 2017, Ana Fontes resolveu ampliar seus objetivos e criou o Instituto Rede Mulher Empreendedora, focado na capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade.